sexta-feira, 20 de agosto de 2010

TROVAS / POSFÁCIO / CAMINHEMOS

Pela relatividade
tudo está no seu lugar.
O tempo não tem idade;
infinito é caminhar!


Os meus cabelos grisalhos
me impedem a caminhada;
enganado por atalhos
cheguei ao topo do nada!


Não temos culpa de nada;
nosso destino é fatal:
as flores da nossa estrada
são de um jardim virtual!


Os rios fazem carinho
no corpo da natureza
__encanto do ribeirinho
ao canto da correnteza!


O silêncio é a sutileza
de respostas olorosas
de um jardim onde a beleza
ecoa o parto das rosas!


Distante dos teus abraços
sinto não estar sozinho;
faço das sombras os passos
às luzes do meu caminho!


O tempo está me ensinando
que a grandeza se comprova
na pequenez da luz quando
a imensidão é uma trova!

Ao som da noite uniforme
comigo a tristeza dança;
enquanto a esperança dorme
a saudade não descança!
===========================
P O S F Á C I O


A tarde fria sopra na vidraça
E esparge em mim um pálido receio:
---À vida de quem passa por passeio
o tempo empedernido jamais passa---


Decido abrir meu livro bem ao meio
e vejo que o passado deu-me à graça
de burilar a vida que congraça
aos feitos do posfácio que releio.


A paz da consciência à luz vislumbra
a noite carinhosa sem penumbra.
O medo então perpassa bem minúsculo.


O esvanecer da tarde continua
e na janela vem pousar a lua...
É o acalanto vívido ao crepúsculo!
===============================

C A M I N H E M O S

Se tens plena certeza do teu dom...
entrar em minha mente não permito
seguindo a tua estrada envolta em rito
nos ideais que vibram mesmo tom.


A tolerância existe ao infinito,
porisso eu compreendo como é bom
o teu compasso alegre ao mesmo som.
Se crês assim... também eu acredito.


Sigamos irmanados o caminho;
ninguém consegue o bem assim sozinho.
O individualismo é superado


por simples atitude fraternal.
A regeneração derrota o mal
se caminhamos sempre lado a lado.
===============================

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

TROVAS / SONETOS: PROGRESSO E REVERÊNCIA

Papel de carta, calado,
grande amigo confidente
que leva para o outro lado
as linhas que a ausência sente!

Maria-fumaça apita
nos trilhos da minha vida
e a saudade então crepita
na plataforma esquecida.

Quem silencia a verdade
não ouve do amor a voz;
perde a sensibilidade,
ganha a frieza do algoz

Chuvas finas a regar
sedentas flores que imploram,
para os homens vêm mostrar
por que os anjos também choram!

Deixa o lamento de lado,
abre a porta do futuro;
o tempo desperdiçado
é um tijolo a mais no muro.

Lapidando a pedra informe
com paciência e carinho
abre-se um espaço enorme
entre as pedras do caminho!

Felicidade consiste
olhar a vida risonha;
um brilho que não existe
nos olhos de quem não sonha.

Quando a chuva beija o chão
ressequido das queimadas,
as flores em gratidão
choram gotas perfumadas!
==========================
PROGRESSO

Estamos no começo de um indício
que a nova era há muito já nos traz:
um despertar solene para a paz
sem ritual, oficiante e ofício.


Com liberdade à vida nos compraz
eflúvio mais sublime do interstício.
O espírito na esteira de edifício
os mitos vai deixando para trás.


Com a ciência sempre em paralelo
o corolário derruba o castelo,
refúgio dos milênios sem acesso.


Se esta amplitude é a tez da onisciência
as vibrações afloram consistência;
é a lei do AMOR, o cerne do progresso.
===============================
REVERÊNCIA

Cansado de remar contra a corrente
parei para pensar na conseqüência:
Se a todo empenho tinha consciência
por que agia assim tão diferente?


Mesmo sabendo o fim, essa insistência
levava-me ao delírio irreverente.
A dor aos poucos foi tomando a frente
e tudo em mim gritou pela clemência.


Abrindo os olhos para a redenção
saí do barco que me dirigia;
passei a comandar-me na razão...


E na corrente a remo num mergulho
eu vi bem fundo, em cima, um novo dia.
O que me fez sofrer foi meu ORGULHO!!