quinta-feira, 20 de maio de 2010

TROVAS / CARÍCIAS / INCONSEQUÊNCIA

Quando a mente se alvoroça
e vocifera no entulho...
arremeda uma carroça:
mais vazia... mais barulho!

Sei, nem tudo é um mar-de-rosas;
aprendi com teus carinhos;
as paisagens mentirosas
mostram rosas sem espinhos!


Deus ao criar a beleza
em tons modestos, suaves,
coloriu a natureza
na singeleza das aves!


Cada árvore cortada
por ganância, choro e vejo
menos uma revoada...
mais angústia ao sertanejo!


Alvorada...e um desalinho
numa cor acinzentada
mostra o vazio de um ninho
no silêncio da queimada!


Na leveza do carinho
de tuas mãos emplumadas
sinto ser um passarinho
nas brisas das alvoradas!


No silêncio da varanda,
caramanchão ressequido,
sinais de pés em ciranda
parecem não ter sumido...


Falsidade deixa brecha
na roda-viva que invade.
Quando o círculo se fecha
escancara-se a verdade!

A noite, em meio à ternura
da solidão que me abraça,
adentra em mim e murmura
que o dia bate à vidraça!
-------------------------------------
CARÍCIAS

As nossas mãos nem se tocam...
e os olhos trocam dardos deslizantes
percorrendo nas veias lavas
e em nossos corpos leves
o suor lânguido, sereno.


A seda dos dedos nos envolvem
paulatina e ternamente
e os olhos cerrados e errantes
dizem-se nos pensamentos
os anseios fugazes então calados.


A eternidade do momento
paira nas carícias dadivosas
e a súplica intempestiva
delineia nossas peles, nossos nervos,
nossos atos e recatos.
------------------------------------------

INCONSEQUÊNCIA

Andante em passos largos e faceira
no alvor da plenitude -- bem celeste --
a nuvem de repente, em tom agreste,
agita-se no tisne da fogueira.


O verde obliterado então se veste
de um breu que a brisa alisa passageira
e voa à toa e perde-se à fronteira
de um horizonte sem oeste... leste...


Floresta abaixo! Em troca de um futuro
que assombra e à sombra da incerteza jaz:
Inconsequência da pior receita.


Hoje recebe o que plantou... e o muro
lá permanece e a esperança... atrás!
Será que vai haver melhor colheita?

----------------------------------------------

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SONETO ÀS MÃES/TROVAS E PENSAMENTOS

RIMA DIVINA

Quem é você, amor sem preconceito,
que nutre vidas, asas para o além
perenizar correntes para o bem
no vencedor porvir do mal desfeito...


Quem é você, imagem sem desdém
do amálgama fluídico no peito
do enleio que se abre no respeito
do anseio à paciência sem porém?


Eu sou aquele ser que tem o ventre
para que a vida nele se concentre
à caminhada em orbe que sublima.


No amor augusto a Deus, sem penitência,
removo pedras com benevolência:
Eu sou a MÃE que arrrima sem a rima!!

----------------------------------------------

G R A T I D Ã O


Muito obrigado, minha mãe querida,
por tudo que fizeste ao meu sucesso,
das contas do teu terço, sem medida;
do ventre ao patamar do teu regresso.


Teus quatro filhos choram a partida
porém a nova casa tem acesso
às vibrações de prece enternecida;
por isso aqui de ti não me despeço.


Cumpriste integralmente uma missão
de persistir família em união.
Ao teu sorriso a paz se descortina.


Nossa vida não tem ponto final:
Transpondo a realeza do portal
pertinho do Nenê... a dona Nina!!

----------------
Homenagem à minha mãe, Antonia Xavier de Oliveira
*13-05-1921
+05-03-2010

---------------------------------------------

Criar filhos requer, sim,
muito amor, senão vejamos:
Construímos um jardim
mas das flores não cuidamos.


Para mesclar-se na lama
quem desconhece a serpente...
quinze minutos de fama
é o tempo suficiente!


Os nossos beijos ardentes
são frutos de encenação...
...e no camarim nem sentes
o aperto da minha mão!


Para iludir solidão
cantando falsos enredos
abraço o meu violão
passando as dores aos dedos.


Em virtude da maldade
não nascer com a pessoa,
virtude não tem idade;
é sempre uma coisa boa!


As flores do meu jardim
parecem eternas divas.
A idade do amor em mim
é a feição das sempre-vivas!


A falsidade é um verniz
com brilho artificial;
não remove a cicatriz
proveniente do mal!


Quando dobramos a esquina
da rua de nossa vida...
o que nos guia, ilumina,
é caridade assumida!


Se esta vida é uma passagem
cuidemos da passarela,
não cultivando a miragem
que a falsa imagem revela!


Olhemos atentamente
o lado bom da pessoa.
Coração fica dormente
se a razão dormir à toa.

--------------------------------------
O estrelismo exacerbado é um presente que pode facilmente ser passado.
--------------------
A credibilidade de uma instituição abalada é uma tampinha numa enxurrada.
--------------------
A inspiração é o momento em que a sublimação oscula a humildade.
---------------------
Enquanto muitos tocam piano, a esperança de ouvir esperança não pode ter pausa.
---------------------
Quando o simples torna-se complexo, denota que os valores triviais perderam nexo.
---------------------
A mentira não precisa ser verdadeira para aviltar a verdade.
---------------------
Permitas que te coloquem asas e sentirás o peso das alturas.
---------------------
A meditação é inimiga da contradição.
---------------------
Conhecendo ou não, respeite. A crítica só é válida quando o conhecimento é respeitado.
---------------------
Social considerado como tal, demagogia é mera utopia.
---------------------
O desdém às pequenas e úteis coisas preconiza a extinção do veio que formará o rio
---------------------
A queda de um muro pode ser um divisor de águas ou multiplicador de pedras.
---------------------

sábado, 1 de maio de 2010

"TRABALHO!!"

PRIMEIRO DE MAIO



Olhando o calendário fico pasmo:
Que maravilha de nação feliz!
...E ao ver as folgas com entusiasmo
lembro das malas: nossa! Nem desfiz!


E num enlevo a remedar orgasmo
vou planejando: e agora, meu país?
Em qual lugar esquecer o marasmo
do meu trabalho que nada condiz?


Conto nos dedos os dias faltantes.
Se é feriado na terça ou na quinta
falto na sexta ou segunda e bem antes


que outro espertinho na frente desminta
fico doente de espirro por nada.
Vejo-me a postos: mais uma jornada!!